Faixa silenciosa. É o protesto de Paul McCartney contra o uso de IA na música

Em dezembro, o músico britânico Paul McCartney vai editar uma faixa silenciosa, juntando-se ao coletivo de mais de mil compositores no relançamento de um álbum também silencioso chamado "Is This What We Want".

Carla Quirino - RTP /
"É isto que nós queremos?". Nome do album musical quase silencioso Via página web - https://www.isthiswhatwewant.com/

É um protesto contra a aplicação de IA em obras musicais e sobretudo pretende instar o Governo britânico a impedir que empresas desta tecnologia se apropriem da propriedade criativa.

Com artistas como Hans Zimmer e Kate Bush, este quase-silêncio de Paul McCartney junta-se agora à causa com uma "faixa-bonus".

O objetivo é sobretudo pressionar o Governo britânico para impedir que empresas de tecnologia desenvolvam meios digitais e se apropriem da propriedade criativa sem qualquer obrigação perante os autores.

A faixa realizada pelo ex-Beatle Paul McCartney intitula-se "(Bonus Track)". É a primeira produzida pelo músico britânico em cinco anos e apresenta-se como uma gravação onde se escuta um "estúdio vazio" com uma sucessão de ruídos, sons de cliques de fita magnética, passos, com duração de dois minutos e 45 segundos. A ideia é transmitir uma sensação de desconforto.

O lançamento chega a 8 de dezembro e coincidirá com a reedição em vinil do álbum "Is This What We Want", conforme anunciado este domingo na página web pelo coletivo com o mesmo nome.

O álbum foi apresentado em 2024 e partilhado nas plataformas digitais: composto por 12 faixas, todas têm em comum silêncio ou sons aleatórios.

Mais de mil artistas, incluindo Annie Lennox, Damon Albarn, Jamiroquai e Max Richter, colaboraram neste álbum silencioso que chegou a ter o lançamento previsto para fevereiro de 2025.

O coletivo insta o Governo britânico a "não legalizar a pilhagem musical em benefício de empresas de IA".

“O álbum apresenta gravações feitas em estúdios e salas de concertos vazios, ilustrando o impacto - que acreditamos ter - perante as propostas do governo de Keir Starmer sobre o rendimento dos músicos”, afirmou o coletivo.

Apenas mil cópias em vinil serão lançadas, acrescentou.

O ex-Beatle de 83 anos já tinha assinado, juntamente com outros 400 artistas, incluindo Elton John, Coldplay e Dua Lipa, uma carta aberta instando o Governo a proteger a indústria musical britânica.

O governo trabalhista está a ser pressionado por gigantes de tecnologia - como a OpenAI, Google, Anthropic e xAI de Elon Musk - para aprovar um projeto de lei já em 2026 que criará uma exceção à lei de direitos autorais para facilitar o uso de conteúdo criativo baseado em modelos de IA.

Caso essas medidas avancem, as empresas de tecnologia não irão mais precisar de obter permissão dos autores ou sequer pagar-lhes a propriedade intelectual.

Esta proposta desencadeou uma onda de protesto junto da indústria musical.

De acordo com um estudo realizado pela UK Music com artistas e produtores, publicado na última quarta-feira, dois em cada três entrevistados acreditam que a IA representa uma ameaça às suas carreiras.

Mais de nove em cada dez querem que a sua imagem e voz sejam protegidas e também exigem compensação das empresas de IA que utilizam as suas criações.

c/agências








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